dezembro 28, 2004

 

Peopleware x CMM

Ultimamente venho trabalhando intensamente na finalização da minha dissertação de mestrado e para tanto tenho catalogado informações de diversos autores. Hoje encontrei algumas citações importantes sobre CMM feitas por Tom DeMarco (http://www.systemsguild.com/GuildSite/TDM/Tom_DeMarco.html) e Tim Lister (http://www.systemsguild.com/GuildSite/TRL/Tim_Lister.html) na segunda edição de Peopleware (1999). Como muitos de vocês devem saber, a primeira edição de Peopleware (1987) é um dos mais importantes clássicos da área de desenvolvimento de software. A segunda edição traz alguns capítulos adicionais nos quais encontrei as citações abaixo sobre CMM:

"Those wonderful folks who brought us the Big-M Methodology(a) back in the 1980s have not been idle. Their latest offering, the Process Improvement Movement, is newer, bigger, better, glitzer, and more ambitious... But it's also the same old stuff. Your local Process Improvement Program is Big-M Methodology, reborn. This time, it takes 'one-size-fits-all' to the extreme: not just one-size-fits-all at your company, but one-size-fits-all worldwide." p.186

"the great triumph of standards (b) in the modern world is almost entirely the success of standard interfaces. A standard for a screw thread or a AA battery or a tape cassete says a lot about the final product - how it interfaces with its corresponding parts - but nothing about the process for building that product." p.188

"When process improvement becomes the goal, the scary projects get put onto the back burner. It's those scary projects, unfortunately, that are probably the ones worth doing." p.189

"One of the strongest justifications for the CMM is that it will raise quality and productivity while decreasing risk. (...) Organizations become more and more averse to risk as they 'mature'. An organization under the gun to demonstrate increased CMM level is not going to go looking for real challenge. (c)" p.190

"The paradox of the CMM is that **process improvement is good**, but **process improvement programs** aren't, or at least they often aren't." p.188

"The Key Process Areas, as identified by the SEI, will be useful to you in building proficiency; they define sets of skills that ought to be on any good software manager's wish list. Focus on the KPA skills, but do whatever you can to turn off the institutional score-keeping(d)." p.192

Como não estou reproduzindo o capítulo completo aqui, acredito que seja interessante alguns comentários para fornecer um pouco mais de contexto:

a) "Big-M Methodology" é uma expressão que foi introduzida na primeira edição de Peopleware e se refere à metodologias burocráticas e pesadas que, às vezes, as empresas impõem sobre as equipes de desenvolvimento. Na segunda edição, ele explica que isso foi elevado a um nível muito mais amplo (mundial) através da introdução dos programas de melhoria de qualidade na área de software. É importante compreender o contexto histórico. As bases do CMM foram publicadas em 1988, com os "avanços" do SEI e a publicação do artigo "Characterizing the Software Process: A Maturity Framework" de Watts Humphrey na IEEE Software. Por essa razão, a primeira edição de Peopleware (1987) não levou em conta o CMM, mas a segunda edição (1999) trouxe o assunto à tona.

b) Em Peopleware e Slack (DeMarco), busca-se com freqüência mostrar onde os padrões são úteis e onde são contraproducentes. Em resumo, são ótimos para definir o formato final de um produto que prediza interfacear com outros (por exemplo, filmes para máquinas, formatos de CD, DVD, fita etc), mas péssimos para definir **como** tais produtos devam ser produzidos. Notar que o CMM tenta padronizar o COMO.

c) Os autores levantam o fato de que frequentemente a busca pelo CMM torna as empresas preocupadas em assumir riscos e, portanto, correr o risco de que os projetos saiam de linha e, eventualmente, a organização não possa mais ser caracterizada em determinado nível do CMM por conta disso. O problema é que o projetos mais inovadores e que mais podem gerar retorno normalmente são também os mais arriscados.

d) Finalmente, os autores mostram que as KPAs do CMM contém informações extremamente úteis e louváveis, mas os programas de melhoria de qualidade são extremamente perigosos, em parte por tentarem padronizar o COMO (one-size-fits-all) e, em parte por criarem um clima de medo nas organizações e aversão à risco, entre outras razões citadas no livro.

Para aqueles que tiverem uma oportunidade, sugiro fortemente a leitura da segunda edição de Peopleware. Os conceitos são extremamente alinhados à cultura do XP.