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outubro 19, 2005Cliente Presente
Clientes normalmente não podem passar 100% do tempo com a equipe de desenvolvimento, bem como não têm condições (frequentemente) de se dedicar exclusivamente a um projeto em particular. Entretanto, não é essa a proposta da prática. Na verdade, a prática chama-se Cliente Presente e o objetivo dela não é fazer com que o cliente passe 100% do tempo com a equipe, mas sim que ele tenha disponibilidade (a maior possível) para ajudar a equipe sempre que ela tiver dúvidas. A ênfase da prática é fazer com que o cliente seja acessível e compreenda a importância disso para o bom andamento do projeto.
Equipes XP se baseiam no princípio de que o resultado final de um projeto depende não apenas dos desenvolvedores, mas também do cliente e de quaisquer outras pessoas que possam ter algum tipo de contribuição para o projeto. Isso é um ponto de vista compartilhado por muitas pessoas, porém vem sendo ignorado fortemente em diversos casos, especialmente nas grandes corporações, onde é comum se criar uma distância significativa entre o cliente e a equipe de desenvolvimento. Ontem mesmo, após fazermos o XP Game em um evento aqui no Rio, estávamos conversando sobre isso e o Luiz Esmiralha comentou que em uma grande empresa na qua trabalha ou trabalhava (Luiz, me corrija se estiver errado) os desenvolvedores eram proibidos de conversar diretamente com os clientes finais. Não podiam sequer trocar emails. Esse é o outro extremo e não é muito agradável. Costumo utilizar uma metáfora para ilustrar a importância dessa prática. Suponha que eu esteja acima do meu peso e decida procurar a ajuda de uma nutricionista. Depois de conversar comigo e tomar as minhas medidas, ela me passa uma dieta, recomenda que eu comece a fazer exercícios e retorne em duas semanas. Na nova consulta, ela me coloca na balança e nota que eu não perdi nem 100g. Eu fico completamente aborrecido e começo a achar que aquilo é uma grande perda de tempo. Começo a cobrar explicações quando ela me pergunta: - Você seguiu a dieta? - Não. - respondo com a cara mais lavada. - Hummm... E você fez exercícios? - Não. - respondo um pouco menos agitado e começando a olhar para o chão. - Então você consegue identificar alguma causa para não ter perdido peso? - Bem... Acho estou começando a ter uma idéia... - respondo tentando enfiar a cara no chão a qualquer custo. :-) Perder peso com a ajuda de uma nutricionista funciona e isso eu sei de carterinha porque perdi 22kg assim. Mas, só funciona quando ambos fazem a sua parte. Por melhor que seja a nutricionista, o paciente não perde nada se não fizer a sua parte, se não tiver disciplina, se não seguir as recomendações. Por outro lado, mesmo o paciente mais disciplinado não perderá peso e poderá até ganhar se for orientado por uma nutricionista incompetente. As duas partes precisam funcionar e bem. Em desenvolvimento de software acontece o mesmo. O cliente tem um papel essencial que é informar o que precisa ser feito e fazer isso de forma clara. Ainda mais importante, precisa explicar qualquer mudança nas circustâncias do projeto, as quais gerem mudanças naquilo que foi solicitado para a equipe. A qual, por melhor que seja, não tem como produzir um software que resolva o problema do cliente se este não informar adequadamente aquilo que precisa ser feito. Mas, infelizmente esse não é um trabalho que possa ser feito apenas no início do projeto ou com pouca frequência. Trata-se de um trabalho contínuo, que precisa ser realizado ao longo de todo o projeto porque as pessoas evoluem, percebem coisas diferentes, têm dúvidas novas e é importante que o cliente esteja acessível para ajudar. O outro lado da moeda também ocorre. Por melhor e mais acessível que seja o cliente, se estiver trabalhando com uma equipe pouco capacitada, o resultado será ruim. Como mencionei antes, ambas as partes precisam trabalhar bem em conjunto. A idéia da proximidade física entre equipe e cliente de desenvolvimento tem a ver com o valor da comunicação no XP. Existem muitas formas de se comunicar idéias, tais como diálogo, telefone, email, instant message, entre outras. Entretanto, alguns meios de comunicação são mais ricos que outros. Normalmente, o diálogo é a forma mais eficaz de comunicar, porque os interlocutores têm acesso a vários elementos da comunicação, tais como as palavras verbalizadas, gestos, expressões faciais, postura, tom de voz, entre outros. No conjunto, esses elementos colaboram para que se compreenda melhor as mensagens transmitidas. Já uma comunicação por telefone, por exemplo, é menos rica porque perdem-se todas as componentes visuais. O que há de ruim nisso? Sabe quando você fala alguma coisa e a outra pessoa faz uma expressão de quem não entendeu? Pois é, trata-se de um feedback importante, porque provavelmente fará você explicar melhor o assunto. Por telefone não se consegue observar isso e talvez a pessoa decida não verbalizar sua dúvida. Assim começam as interpretações equivocadas. A comunicação entre cliente e desenvolvedores pode ser dar pessoalmente ou por email e outras ferramentas computacionais, por exemplo. Estes últimos embora também possam funcionar, são menos eficientes que o diálogo. Portanto o XP procura dar preferência ao diálogo, não porque outros meios de comunicação necessariamente sejam falhos, mas porque acredita-se que dialogar será mais eficiente, gastará menos tempo e irá gerar maior compreensão. E isso é outro fator que nos leva a buscar a proximidade e a participação frequente do cliente. |
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